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Suicídio médico: quando quem cuida precisa de cuidado

Entrevista

19/02/2024

“Eu perdi amigos e colegas para o suicídio. Todos médicos”, relata Dra. Pamela Wible, médica especializada em prevenção ao suicídio.

Desde 2015, o mês de setembro no Brasil ganhou notoriedade por tratar de um tema complexo e delicado, o suicídio. O ato derradeiro envolve uma série de questões multifatoriais, abrangendo aspectos sociais, psicológicos, biológicos e culturais, todos fatores que podem contribuir para a tomada dessa decisão. Anualmente mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida, um suicídio a cada 40 segundos, revela a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Considerado um tabu pela sociedade, é fundamental que haja discussões acerca de sucídio, saúde mental de maneira integral e universal, e ainda, reconhecimento dos principais “gatilhos” e estímulo para dirimir os casos. A prevenção ao suicídio merece mais destaque e requer ação coletiva de toda a sociedade, com o envolvimento ativo de profissionais da saúde, governos, instituições. Uma matéria publicada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) informa que apesar do avanço, apenas 38 países contam com estratégias de prevenção ao suicídio, dentre eles, o Brasil.

 

O sucídio é o último passo

Em entrevista ao Podcast SAESP, o psiquiatra especializado em Dependência Química pela Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas da Unifesp, mestre e doutor em Psiquiatria e Psicologia Médica pela mesma universidade, Dr. Elson Asevedo, afirma que o suicídio é a última etapa de uma longa jornada. “O comportamento suicida é resultado de uma longa trajetória. Temos que intervir antes do desenrolar do ato. Temos que cuidar de ações de promoção de saúde, o que é mais simples e efetivo.”


O que eu posso fazer para evitar?
Alimentação adequada
Atividade física
Sono regular
Senso de transcendência (se importar com algo além de si mesmo)
Relações sociais saudáveis
Dosagem entre trabalho e lazer

A Revista da SAESP, por meio da dra. Claudia Simões, diretora de Relações Internacionais da SAESP e coordenadora do Núcleo de Qualidade de Vida, conversou Dra. Pamela Wible, autora do livro "Physician Suicide Letters Answered" (Cartas de Suicídio de Médicos Respondidas). O trabalho da médica estadunidense, formada pela University of Texas Medical Branch (UTMB), se concentra em destacar os desafios enfrentados pelos profissionais da saúde, como o estresse, a depressão e o suicídio, bem como na promoção de ambientes de trabalho mais saudáveis ??e apoio emocional para os profissionais de saúde.


Revista da SAESP: Qual é a incidência de suicidio entre médicos? Você sabe se esse índice é maior que entre outras profissões?


Pamela Wible: Especialistas apontaram que três vezes mais médicos morrem por suicídio em comparação à população em geral. Não sabemos exatamente os números pois alguns casos são encobertos. 


RS: Qual razão a senhora acredita que eleva o índice de suicídio entre os médicos?


PW: Violação de direitos humanos. Escrevi um livro a respeito, sobre as principais violações de direitos humanos que os médicos enfrentam. O livro se chama “Human Rights Violations in Medicine: A to Z Action Guide” (Violações de Direitos Humanos na Medicina: Guia de Ações de A a Z).


RS: Por que a senhora se especializou em suicídios entre médicos?


PW: Eu perdi meus amigos e colegas para o suicídio. TODOS MÉDICOS.


RS: O que a senhora identifica como os fatores mais importantes para prevenir mortes por suicídio?


PW: Confidencialidade no cuidado à saúde mental de maneira que conselhos e diretorias médicas não possam punir os médicos que estão neste momento de vulnerabilidade. Fiz muitos materiais a respeito, como “Why doctors don’t get mental health care” (Por que médicos não cuidam da saúde mental) e “Depressed Doctor: How To Get Confidential Mental Health Help for Physicians” (Médico depressivo: como conseguir ajuda para saúde mental confidencialmente).

Os materiais podem ser consultados através dos links abaixo:

Depressed Doctor: How To Get Confidential Mental Health Help for Physicians (idealmedicalcare.org)

Why doctors don't get mental health care (idealmedicalcare.org)

 

RS: O que a senhora sugere para prevenir novos casos?


PW: Parar de punir disciplinarmente os médicos por terem necessidades humanas.

 

A Dra. Pamela Wible destacou que as instituições podem adotar medidas imediatas, como a eliminação das perguntas relacionadas à saúde mental nos formulários de contratação, substituindo-as por indagações como: “Você atualmente possui uma condição que prejudica sua capacidade de praticar a medicina com segurança?”. Ela enfatizou a importância de promover o cuidado com a saúde mental dos médicos de forma completamente confidencial e não punitiva. A médica afirmou que os profissionais de saúde precisam de acesso seguro e acessível aos serviços de saúde mental, reconhecendo que a maioria deles escolhe a medicina com nobres intenções. A Dra. Wible ressaltou que é fundamental auxiliá-los em seu autocuidado, pois, afinal, como podem fornecer um tratamento de qualidade aos pacientes se nunca receberam cuidados adequados?


Precisa de ajuda?

A SAESP mantém a hotline do We Care, programa que atende médicos anestesiologistas adictos, familiares ou colegas que precisam. A Sociedade mantém parceria com especialistas em adicção e promove ações que visam o bem estar e recuperação do atendido. Basta telefonar para HOTLINE 11 3673-1213 e receber as orientações.

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