Notícias SAESP

PCA: maior eficácia no tratamento da dor versus mau uso dos opioides

Entrevista

20/03/2023

Conheça os riscos e benefícios da Analgesia Controlada pelo Paciente de acordo com o Dr. Olympio Chacon, coordenador do Núcleo de Dor e Cuidados Paliativos da SAESP

 

O tratamento da dor é uma das principais preocupações médicas, principalmente em casos de dores agudas ou crônicas, e uma das formas de tratar a dor é por meio da PCA, ou Analgesia Controlada pelo Paciente, que é um método de administração de medicações para controle de dor que dá autonomia ao paciente, promovendo o fornecimento das medicações nas dosagens e intervalos corretos e reduzindo efeitos adversos por superdosagem ou escape da dor.

“O método se baseia no uso de um dispositivo, podendo ser uma bomba de infusão, passível de programação, em que doses do medicamento desejado são administradas com faixa de segurança, evitando o uso incorreto pelo paciente”, explica Olympio Chacon, coordenador do Núcleo de Dor e Cuidados Paliativos da SAESP. Ele defende que os desfechos são melhores com o uso de PCA, uma vez que com a autonomia do paciente, há uma “maior satisfação com o tratamento, reduzindo efeitos adversos da dor descontrolada, como intercorrências cardiovasculares, hemodinâmicas, respiratórias, alterações cognitivas em pacientes geriátricos, aumento de infecções de ferida operatória, além de alterações metabólicas, como aumento dos níveis de catecolaminas, do cortisol e da glicemia com resistência à insulina”.

A PCA pode ser usada dentro dos hospitais e também em ambientes de home care, contanto que haja uma equipe responsável pela manutenção dos equipamentos e das medicações. A respeito das possibilidades de utilização, “diversas situações contemplam o uso da PCA, como dor pós-operatória, pacientes com dor crônica agudizada (dor disruptiva), pacientes vítimas de trauma com nível de consciência preservado, pacientes queimados, pacientes pediátricos com cognição para entendimento e uso do equipamento, pacientes oncológicos, além de situações diversas, como na analgesia de parto. A maior restrição do uso da analgesia controlada pelo paciente é a incapacidade do paciente de entender e manusear a bomba de PCA, sejam pacientes pediátricos ou demais faixas etárias em declínio cognitivo”, explica o médico. 

Considerada “padrão-ouro” para o controle da dor aguda ou crônica agudizada, ao trazer autonomia ao paciente, é bom salientar que “para um bom uso da PCA, é importante a educação do paciente, assim como de seus acompanhantes, e um bom preparo da equipe de controle de dor”, diz Dr. Chacon. 

Mau uso de opioides: PCA aumenta os riscos? 

Um dos maiores problemas da medicina moderna é a epidemia do mau uso de opioides, principalmente em países desenvolvidos, como os Estados Unidos e o Canadá, que trazem um alerta sobre a autonomia do paciente na administração desses medicamentos. Então, seria a PCA um risco para o aumento dessa epidemia e para o mau uso pelos pacientes? 

Segundo Chacon, as bombas possuem métodos de segurança tanto físicos quanto de programação, como o limite de dose por acionamento, o limite de doses por intervalo de tempo, o intervalo mínimo entre administração de doses, o que impede as superdosagens ou uso incorreto pelo paciente. Além disso, “a medicação é armazenada em um reservatório identificado e lacrado, que não deve ser acessível ao paciente. O equipamento também possui uma senha inicial para mudança de programação e administração de doses”, informa. 

Ele ainda explica que “a bomba mantém um histórico que contabiliza todas as solicitações realizadas pelo paciente, assim como as doses administradas. Através da análise desse histórico e anamnese diária, podemos realizar ajustes na programação da PCA, como aumento da dose da medicação por solicitação, alteração dos intervalos para mais ou menos, assim como os limites”, complementa.

Disponibilidade da PCA no Brasil e no mundo

Apesar de ser possível encontrar a PCA disponível em diversos hospitais brasileiros, tanto privados quanto públicos, a prática não é tão comum quanto em países mais ricos, uma vez que o alto custo é um fator que impede uma maior implementação e utilização do equipamento. O médico comenta que em estudo feito pela Equipe de Controle de Dor do HC-FMUSP em 2014, foi constatado que a maior parte do custo de instalação e manutenção da Analgesia Controlada pelo Paciente se deve ao recurso humano, seguido dos equipamentos e medicações. Em países desenvolvidos, por outro lado, o seu uso é mais comum. 

Mesmo com o uso ainda restrito da PCA em países em desenvolvimento, Dr. Chacon ressalta que no Brasil, apesar de termos um sistema de saúde público deficitário, ele é universal. Uma realidade diferente de boa parte dos países desenvolvidos, que possuem um sistema de saúde privado e inacessível para uma parcela da população.

Fonte:

Whatsapp